Como 90% do comércio mundial entre países sendo realizado pelo mar, a relevância do setor é revelada ainda pela movimentação de US$ 5 trilhões
Diante dos desafios a serem superados, as empresas líderes do setor marítimo e portuário, Hidrovias do Brasil, Porto do Açu e Wilson Sons, divulgaram, nesta semana, um ‘chamado à ação conjunta’ de governo, empresas, academia, centros de pesquisa e startups. No documento, intitulado “Manifesto pela Inovação no Setor Marítimo e Portuário”, as companhias afirmam que, “apesar de alguns exemplos de excelência em inovação na área, o país ainda precisa superar gargalos logísticos, regulatórios e culturais que impedem avanços mais consistentes e sustentáveis”.
O manifesto identifica quatro grandes desafios, a partir de consultas feitas aos stakeholders do setor marítimo, portuário e hidroviário brasileiro: desarticulação entre organizações envolvidas em projetos inovadores; pouco incentivo à tomada de risco inteligente; falta de planejamento de longo prazo; pouco incentivo à inovação nos processos de contratação. Como propostas para solucionar os referidos gargalos, as três companhias sugerem: realizar diagnóstico sobre a inovação no setor marítimo e portuário do Brasil, com métricas bem definidas para acompanhamento; premiar os maiores avanços em inovação entre os portos; criar grupo de trabalho para construção de políticas de longo prazo voltadas à modernização dos portos.
“É importante que a discussão sobre os desafios e propostas de melhorias na área ganhe a atenção da sociedade brasileira. Queremos incentivar o debate qualificado sobre um tema de importância capital para o Brasil: a urgência de impulsionar o ecossistema nacional de inovação no setor marítimo, portuário e hidroviário”, diz Eduardo Valença, diretor de transformação digital da Wilson Sons.
O documento traz, ainda, dados sobre o desempenho dos portos brasileiros, comparado aos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e EUA. No caso do tempo médio de espera para atracação, no Brasil é de 5,5 dias, enquanto nos EUA é muito menor: dois dias. Já o tempo médio de desembaraço aduaneiro alcança 49 horas no país, contra 12,7 horas na OCDE, com o custo chegando a US$ 862 aqui, contra US$ 136 lá. “É um documento propositivo, porque a gente aponta o que é gargalo, mas também aponta o que pode ser solução”, complementa o diretor de transformação digital da Wilson Sons.
Como 90% do comércio mundial entre países sendo realizado pelo mar, a relevância do setor é revelada ainda pela movimentação de US$ 5 trilhões em valor agregado anual dos produtos transportados pelo mar, enquanto os gastos anuais em serviços de frete marítimo totalizam US$ 1 trilhão. Apesar dos valores expressivos, o manifesto indica que o Brasil ainda tem décadas de atraso em inovações setoriais, citando o Serviço de Tráfego Marítimo (VTS, em inglês), implantado em 1948 no Reino Unido e aqui em 2015; o calado dinâmico nas janelas de atracação, disponível nos Países Baixos desde 1985, mas aqui só em 2022 (a Norma da Autoridade Marítima foi publicada em dezembro de 2019); e o PCS (Port Community System), implantando em localidades na Europa nos anos 1970.
Startups oferecem soluções em eficiência e segurança
Na Intermodal South America 2024, feira realizada esta semana em São Paulo, a companhia baiana, Wilson Sons, apresentou novas soluções tecnológicas e operacionais para o setor portuário e marítimo do Brasil e para a cadeia logística global. Segundo Arnaldo Calbucci, COO da empresa, a melhoria contínua por meio da inovação e da adoção de novas tecnologias faz parte do DNA da empresa: “participar do maior evento da América Latina, a Intermodal, é uma oportunidade única de estarmos ainda mais próximos dos nossos stakeholders e apresentar soluções que buscam tornar-se mais eficientes e sustentáveis as operações do setor marítimo e portuário”.
Classificada como uma das empresas mais inovadoras do país, segundo pesquisa do Anuário Valor Inovação Brasil 2023, integrando o ranking das 150 empresas mais inovadoras e presente no Top 5 do setor de Transportes e Logística, a Wilson Sons é mantenedora do Cubo Itaú, o mais relevante hub de inovação da América Latina, e lidera junto a outras empresas o Cubo Maritime & Port.
Como explica Eduardo Valença, a ideia de criação do hub veio da necessidade de fazer com que a tecnologia seja uma mola propulsora para o desenvolvimento dos portos e que todo o setor se beneficie disso. “A Wilson é uma empresa grande, relevante, mas ela sozinha não consegue mexer no mercado, no sentido tecnológico. Então, a gente resolveu criar um hub de inovação e chamar outras empresas importantes”, afirma o diretor de transformação digital da empresa. Segundo ele, o objetivo das startups é incentivar o protagonismo na proposição de inovação, sem “inventar a roda”, mas trazendo boas práticas internacionais para o país.
Nos últimos três anos, a companhia investiu aproximadamente R$ 25 milhões em participação minoritária em startups e utiliza a tecnologia para apoio às suas operações, com ganhos em eficiência e segurança. Uma delas é a Argonáutica, desenvolvedora do sistema operacional da Central de Operações de Rebocadores, chamado de ArTeMIS, que monitora em tempo real a frota de 81 rebocadores da companhia, ao longo da costa brasileira.
“Com o controle que a gente tem com a Argonáutica, a gente sabe exatamente por onde as nossas embarcações estão navegando; existem uma série de controles de alarmes e se ela está indo em direção a uma região que não tem profundidade, boa um alarme e isso evita encalhes, acidentes, o que ajuda na segurança e na eficiência, porque a gente sempre faz a melhor rota para as embarcações, além de controlar a velocidade para reduzir consumo de combustível”, detalha Rodrigo Bastos, diretor de operação de rebocadores da Wilson Sons.
Em relação à Docktech, a realização do monitoramento da profundidade do canal de navegação, usando os equipamentos nas embarcações da Wilson Sons, também traz ganhos operacionais. “Com o algoritmo, a Docktech consegue perceber mudanças de profundidade antes da atualização das cartas náuticas, por exemplo, também evitando encalhes e acidentes de nossas embarcações e contribuindo para a produtividade do porto”, completa Bastos. A Wilson Sons está há mais de três anos cooperando com a startup, disponibilizando sua frota para coletar os dados de profundidade em todos os portos em que opera ao longo da costa brasileira.
Fonte: Tribuna da Bahia