Para proteger os filhos de violências e abusos sexuais, não é mais suficiente ficar de olho no que eles fazem na rua. Pais e mães devem, também, ficar atentos aos hábitos de crianças e adolescentes dentro de casa.
O alerta é feito pelo pediatra e sanitarista Daniel Becker, que lembra que a internet aumentou muito a possibilidade de acesso dos predadores sexuais às crianças. “O perigo agora está dentro de casa. Chega pelos chats de games, redes sociais e grupos na internet. Os pais e responsáveis precisam estar muito atentos”, afirma.
Becker, que também é escritor e palestrante, conquistou mais de 800 mil seguidores em sua página no Instagram @pediatriaintegral, com posts que vão além das doenças pediátricas e abordam comportamento, proteção infantil e a relação das crianças com o meio ambiente.
Ele sugere que os pais façam sincronização de contas, estabeleçam acordos com seus filhos sobre o tempo de uso de telas e supervisionem os chats e as redes sociais acessados por eles.

Para o pediatra, monitorar de perto as interações dos filhos com as telas não é invadir sua privacidade: “Não se trata de invasão de privacidade, é questão de segurança saber o que se passa quando seus filhos estão online. Os criminosos usam programas de inteligência artificial para enganar e manipular.”
Além de estar atento às interações digitais dos filhos, os adultos devem prestar atenção ao comportamento deles, pois podem transmitir sinais indiretos de que passam por problemas. “Se a criança ficou retraída, mais medrosa, agressiva, se mudou hábitos ou está tendo problemas escolares, se fica nervosa diante de alguém que frequenta ou mora na casa, esses são alguns sinais de alerta”, explica.
Segundo Becker, o abuso infantil é “uma das piores intercorrências na vida de um ser humano”. “É extremamente lesivo para a estrutura psicológica de uma pessoa”, afirma, acrescentando que quando um abuso é identificado é necessário que a criança comece a fazer terapia o mais rápido possível.

A SaferNet, organização que mantém um canal de denúncias de violações de crimes e direitos humanos na internet, registrou um aumento de 70% no número de notificações de imagens de abuso e exploração sexual infantil (a chamada “pornografia infantil”) nos quatro primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período do ano passado.
Becker acredita que uma onda moralista vem reprimindo discussões sobre assuntos ligados à sexualidade e colabora para que boa parte das famílias não tratem do tema em casa. “Esse silenciamento é a pior opção possível”.
Ele considera fundamental a existência de políticas públicas eficientes para conscientização das famílias sobre o abuso sexual infantil e sobre violência doméstica.
“Campanhas educativas são urgentes. Oferecer educação sexual nas escolas, criar programas de orientação e de acolhimento. É mais eficaz trabalhar preventivamente”, diz.
COMO DENUNCIAR ABUSOS ONLINE
A organização SaferNet tem um canal de denúncias anônimas. Para registrar um caso, é preciso acessar denuncie.org.br, colar o link do endereço da internet que a pessoa acredita que deva ser investigado e seguir os passos indicados na plataforma.
Fonte: Folha de São Paulo