Como marinheira, motorista de trator ou piloto de helicóptero, elas estão por toda parte no mercado de trabalho
Histórias como a da marinheira Jéssica dos Santos Santana são inspiração para outras mulheres na luta pela realização do sonho profissional. Funcionária da empresa operadora de logística portuária e marítima, Wilson Sons, Jéssica elenca uma série de desafios enfrentados durante a sua carreira.
Para participar de concursos e formações na área, ela precisou deixar a família em Ilhéus e viver experiências desafiadoras, como em 2012, quando partiu para o Rio de Janeiro, após conclusão de um curso, com o objetivo de conseguir atuar como marinheira. “A pior parte para uma mulher era conseguir um embarque, porque a grande maioria das empresas não lotava mulheres na sua tripulação por conta de questões como os camarotes coletivos e a necessidade de manuseio de âncoras”, revela.
Apesar das dificuldades, Jéssica não desistiu. Longe da família, ela lembra que teve todo o seu dinheiro roubado e chegou a ser despejada de um alojamento, mas que contou com a solidariedade de outra mulher, que a viu na praça, se sensibilizou com a situação e a acolheu por alguns dias em sua casa. “Foi a época mais difícil, pois não tinha o que comer; tinha que entregar currículo, recebia vários ‘nãos’ e ouvia pessoas dizendo que preferiam um homem, porque é mais forte. Escutei muito essa frase: a gente não contrata mulher”, lembra. Mas, as coisas mudaram.
Empresas vêm apostando na mão de obra feminina para as diversas funções | Foto: Divulgação
Após experiência em duas empresas do setor marítimo, Jéssica fez faculdade de engenharia civil, foi aprovada em um concurso até ser admitida pela Wilson Sons, empresa na qual completa, neste sábado (9), três anos de atuação. “Nós, mulheres, temos as mesmas capacidades que os homens para executar as tarefas. Às vezes, não é questão de força, mas de técnica. Graças a Deus, consigo desempenhar as minhas funções e a empresa nos dá muitos treinamentos, coisa que outras empresas não fazem”, destaca.
A Wilson Sons possui mulheres atuando como operadoras de empilhadeiras, de tratores, eletricista, mecânica e soldadoras, com um aumento de 83% desde 2021 na atração de mulheres portuárias para as suas operações. Segundo Luísa Helena Moura, analista de diversidade, a companhia tem uma agenda de ações com foco em receber melhor essas mulheres, indo além da diversidade e representatividade, trazendo inclusão, conforto e segurança psicológica para que possam atuar em suas atividades profissionais.
Milene Ferreira Santana conta que sente orgulho de atuar na área e que a empresa deu oportunidade a ela de realizar o seu sonho: trabalhar no Porto. Como operadora de trator, no Terminal de Contêineres de Salvador (Tecon Salvador), ela diz que se sente reconhecida e já pensa em novas oportunidades. “Sou motorista e operadora de TT (trator de pátio), brigadista também da brigada de emergência e já me inscrevi para ser operadora de grande porte”, conta.
Milene, que já dirigiu caminhões na empresa que atuou anteriormente, cita como maior desafio de sua carreira o de conduzir veículos grandes e articulados. Hoje, ela comemora as suas conquistas e incentiva as mulheres a não desistiram dos seus sonhos: “quem acredita e vai atrás, alcança. Sou prova viva disso”.
Novos desafios
A coragem e a perseverança também são características da motorista de aplicativo, Rosimere Eliana, que começou a exercer a função há um mês. Segundo ela, no início, a ansiedade era tamanha que até sentia o coração acelerar. Mas, com o passar do tempo, foi ficando mais calma e confiante.
“Acho que o maior desafio é querer trabalhar e ‘meter as caras’. Saio de casa às seis da manhã e volto às três da tarde. Quando chego, ainda tenho que fazer as tarefas de casa. Tem isso também, né? A mulher ainda se divide nas múltiplas funções”, comenta. Rosimere aderiu ao programa “Elas na Direção” da Uber, que permite às condutoras parceiras receber chamadas apenas de passageiras que se identificam como mulheres. Segundo ela, a experiência tem sido gratificante, especialmente, pela troca com as clientes e por ouvir histórias inspiradoras ao volante.
De acordo com o boletim divulgado ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), intitulado “Mulheres no mercado de trabalho: desafios e desigualdades constantes”, a ocupação feminina aumentou entre o 4º trimestre de 2022 e o de 2023, com acréscimo de 705 mil mulheres. A ocupação das mulheres negras cresceu 2,5%, o que representou 565 mil novas ocupadas. Entre as não negras, a alta foi de 0,7% ou 140 mil mulheres a mais.
Fonte: Tribuna da Bahia